- Deus
é um ser distinto, ou será, como opinam alguns, a resultante de todas as forças e de todas as inteligências do
Universo reunidas?
“Se fosse assim, Deus não
existiria, porquanto seria efeito e não causa. Ele não pode
ser ao mesmo tempo uma e outra coisa. Deus existe; disso não
podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não
lograríeis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que
acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis. Deixai, consequentemente, de
lado todos esses sistemas; tendes
bastantes coisas que vos tocam mais de perto, a começar
por vós mesmos. Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos libertardes
delas, o que será mais útil do que pretenderdes
penetrar no que é impenetrável.”
- Que
se deve pensar da opinião segundo a qual todos os corpos da Natureza, todos os seres, todos os
globos do Universo seriam partes da Divindade e constituiriam, em conjunto, a própria Divindade,
ou, por outra, que se deve pensar da doutrina panteísta?
“Não podendo fazer-se
Deus, o homem quer ao menos ser uma parte de Deus.”
- Pretendem os que professam esta doutrina achar nela a demonstração de alguns dos atributos de Deus: Sendo
infinitos os mundos, Deus é, por isso mesmo, infinito; não havendo o vazio, ou o nada em parte
alguma, Deus está por toda parte; estando Deus em toda parte, pois que tudo é parte
integrante de Deus, Ele dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser inteligente. Que se pode opor a este raciocínio?
“A razão. Refleti
maduramente e não vos será difícil reconhecer-lhe o absurdo.”
Esta doutrina faz de Deus um ser
material que, embora dotado de suprema inteligência, seria em ponto grande o
que somos em ponto pequeno. Ora, transformando-se a matéria incessantemente, Deus, se
fosse assim, nenhuma estabilidade teria; achar-se-ia sujeito a todas as
vicissitudes, mesmo a todas as necessidades da Humanidade; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da
Divindade: a imutabilidade. Não se podem aliar as propriedades da matéria à
ideia de Deus, sem que Ele fique rebaixado ante a nossa compreensão e não
haverá sutilezas de sofismas que cheguem a resolver o problema da Sua natureza
íntima. Não sabemos tudo o que Ele é, mas sabemos o que Ele não pode deixar de ser e o sistema de que tratamos está em
contradição com as suas mais essenciais propriedades. Ele confunde o Criador
com a criatura, exatamente como o faria quem pretendesse que engenhosa máquina
fosse parte integrante do mecânico que a imaginou. A inteligência de Deus se revela em Suas
obras como a de um pintor no seu quadro; mas, as obras de Deus não são o próprio
Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou.
Conhecimento do Princípio das Coisas Espírito e Matéria Elementos Gerais do Universo
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